22 julho 2007

"Partidocracia?"

Os lisboetas tiveram eleições para a Câmara Municipal no dia 15 de Julho de 2007. Estas eleições revestiam particular interesse por serem intercalares, algo que é pouco comum na vida eleitoral portuguesa.

Podem fazer-se vários juizos de valor e tecer diversas considerações sobre o acto eleitoral em si. Para uns o facto de terem sido eleições com 62,61% pode ter sido o facto mais relevante. Para outros o facto do PS ter ganho sem estar coligado. Alguns podem ainda achar relevante o facto de o CDS/PP com Paulo Portas não ter votos suficientes para eleger qualquer mandato.

Muita imprensa publicada deu também especial relevância ao facto de ter sido Marques Mendes do PSD a provocar a queda do Executivo Camarário e ter sido assim o grande derrotado, uma vez que deixou de ser poder, para passar a ser 3ª força na Câmara (sendo ultrapassado por Carmona Rodrigues, o tal a quem Marques Mendes retirou todo a confiança política...)



No entanto, para mim o facto mais relevante destas eleições foram sem dúvida os resultados obtidos pelos independentes. É impressionante como cerca de 30% da população não votou em partidos políticos.
Ora isto levanta umas questões muito profundas:
"Se os partidos Políticos são quem garante a Democracia, como é que se justifica que 52.710 eleitores tenham votado em listas independentes?"
"Se são os partidos politícos os grandes mobilizadores eleitorais, como se justifica uma abstenção de 62,61%?" Se fosse referendo não era vinculativo
"Os partidos politicos estão em crise de identidade? A população já não se revê neles? Onde pára a ideologia política?"

Parece-me a mim que os Partidos Políticos enquanto garantes da Democracia têm os dias contados. Não faz sentido que as listas candidatas sejam "patrocinadas" pelos partidos pois estes já não têm o seu papel na sociedade de mobilizadores, no sentido em que mobilizam os eleitores às urnas, nem um papel fracturante, no sentido de demarcar ideologiacamente posições políticas.

A Partidocracia existente e latente nos dias de hoje é assim vazia de conteúdo. Hoje já nem se consegue distinguir claramente entre Direita e Esquerda. Os modelos socialistas, de apoio aos mais desfavorecidos esbarram na 3ª, 4ª ou mesmo 5ª via, bem como a economia de mercado e as fronteiras da nação bem definidas esbarram numa construção europeia.

Queriam apenas levantar algumas questões politicamente relevantes, resultantes das eleições em Lisboa que nos fazem pensar sobre a efectiva necessidade dos partidos políticos.

Alguns dados

Os Independentes obtiveram 27,98% dos votos sem contar com os votos em Manuel Monteiro e Garcia Pereira que apesar de todos sabermos que os partidos destes actores políticos existem enquanto estes existirem (são partidos criados para servir);

62,61% preferiu ir passear a exercer o direito/dever de votar;

6 partidos políticos não elegeram qualquer mandato, a saber CDS/PP, PCTP-MRPP, PNR, PND, MTP e o PPM.

Para os interessados aqui ficam os resultados:

PS - 57.907 votos - 29,54%

Carmona Rodrigues - 32,704 votos - 16,70%

PSD - 30.855 votos - 15,74%

Helena Roseta - 20.006 votos - 10,21%

CDU - 18.681 votos - 9,53%

B.E - 13.348 votos - 6,81%

CDS - 7.248 votos - 3,70%

PCTP - 3.122 votos - 1,59%

PNR - 1.501 votos - 0,77%

PND - 1.187 votos - 0,61%

MTP - 1.052 votos - 0,54%

PPM - 715 votos - 0,38%

Amén